A palavra (mal)dita



Vez ou outra me distraio com alguns instantes de ingênua alegria em estar com algumas pessoas. São breves sopros de vento, de uma brisa fresca durante um dia de sol forte e calor. É como uma borboleta, um beija-flor, que chega em um ponto florido, enamora-se pela cor, aroma, atrativos próprios e em seguida voa para longe, para outros campos floridos.

E vez ou outra me encanto com esses momentos rápidos, passageiros.

E com a mesma facilidade que tenho em me encantar, tenho também para ver minha fragilidade e perceber como é fácil eu ver diante de meus olhos o encanto desvanecer.

Reconheço minha fragilidade e sempre que sou golpeado pelo aspecto mais rude, grosseiro e áspero das pessoas, regrido, dou passos para trás, afasto-me, tomo outro rumo.

Eu sempre tive a idéia, por ter convivido por algum tempo com pessoas de temperamento explosivo, que é muito melhor você falar de forma direta e simples, do que gritar, expressar palavras desagradáveis e ofender as outras pessoas.

Por ter convivido por algum tempo com estas pessoas, e em especial, alguns dos meus familiares, creio que acabei desenvolvendo uma espécie de defesa. Quando alguém me dirige palavras fortes, na intenção de explodir, mesmo que não seja a intenção da pessoa em me ofender, eu me contraio.

E quando tenho acontece o inverso, quando eu estou na posição de poder explodir com alguém, eu prefiro não tomar a posição do meu opressor. Prefiro me calar, sempre, ficar distante, ausente, imperceptível. Faço isso pois sei que não é fácil lidar com este tipo de pessoa, que uma hora lhe sorri e lhe dirige palavras amáveis; num outro, faz com que esta aparência aparente, desmanche-se por completo mostrando uma outra face.

Prefiro não disparar e atiçar a raiva, a frustração, o ódio nas outras pessoas. Contenho-me e tento ao máximo não fazer com que as outras pessoas sejam o alvo deste rancor, que leva ao ponto de explodir e dirigir palavras árduas. Pedra-palavra, fere tanto quanto a pedra-pedra.

Tenho uma tia muito querida, dona Maria, que uma vez ponderou o comportamento e a forma como a minha irmã se dirigia à minha mãe dizendo: "A língua não tem osso, mas quebra caroço". E isso é realmente o que acontece.

Em algumas tradições mágicas, senão em todas, existe uma atenção ao poder que a palavra possui. Poder este capaz de aproximar e atrair, afastar e repelir forças, espíritos e vibrações. E é este mesmo poder que tanto causa o encanto quanto a agressão, o desencanto entre aquele que a pronuncia quanto a quem ela é dirigida.

Como pessoa e em minha fragilidade, e enquanto aquele que recusa o papel de opressor, tenho a necessidade de superação própria, a fim de que em algum momento possa combater o diálogo agressivo com prudência e argumentos. E evitar, sempre, estar no papel de opressor.

Fazer uso da boa palavra, sempre.

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